Autor: Ubiratã Ferreira Freitas

Palavras chave: Revolução, Discurso e Biopoder.


Introdução

Na construção do Estado do Rio Grande do Sul, visto em sua historiografia, podemos definir questões que efetivaram o desenvolvimento tecnológico e progressivo do Estado. Em busca desse progresso, os processos revolucionários diversos como, Revolução Farroupilha e Revolução Federalista, tiveram tamanha importância para consolidar o Estado como um dos principais do Brasil.
Dentro desse processo a dimensão da Revolução Federalista é o objeto de pesquisa que efetiva uma História Social em um recorte a partir de 1892, quando a Canhoneira Marajó, sitiou a capital gaúcha bombardeando Porto Alegre, tendo em seu comando João de Barros Cassal, tido como um anarquista revolucionário.
Esse fato histórico provoca uma solidariedade da sociedade porto-alegrense, que se arma e defende Porto Alegre junto com as forças militares do Exército e a Guarda Cívica. Trabalhando com uma abordagem de Micro História, onde a partir da dimensão do fato histórico apresentado em uma História regional, busca-se uma análise da fonte de pesquisa das noticias de jornal, como discurso, aspecto social (podendo usar um processo criminal), aspectos econômicos, políticos e religiosos, como legitimidade da sociedade, bibliografias referentes da Revolução Federalista, e o cotidiano de Porto Alegre.
Com o uso de uma interface com outras disciplinas, como História econômica, História Política, História Antropológica, História Cultural e História Religiosa. Busca-se definir padrões que representavam à sociedade e as modificações que ocorreram a partir do sitiamento, com ênfase nas causas e conseqüências que fomentaram a Revolução Federalista de 1893.
O domínio como parte do processo de abordagem, vem definir como os acontecimentos provocaram as reações do quadro social, político, econômico e militar dentro do contexto de revolução, que se instala na vida cotidiana de Porto Alegre.

Com competência e possibilidade de definir outros aspectos e dimensões sobre a Revolução Federalista, buscando em seu quadro social os verdadeiros personagens que se manifestaram contra ou a favor da revolução – desta forma outra elaboração de compreensão de fatores que legitimaram os tempos da Revolução –, onde com empenho e ênfase na pesquisa, possibilita encontrar os domínios revolucionários e as medidas legalistas que levaram o Rio Grande do Sul em seu desenvolvimento e progresso.
Dentro do processo revolucionário que ocorreu no Estado do Rio Grande do Sul, a Revolução Federalista teve uma participação efetiva e de suma importância para sociedade rio-grandense, visto que, partindo de um estudo desse procedimento revolucionário, foram localizados fragmentos que possibilitam uma visão diferenciada dentro de uma composição social.
Analisando o fato histórico que mobilizou a sociedade porto-alegrense, dentro de um quadro revoltoso de sitiamento pela Canhoneira Marajó, sendo essa pertencente à flotilha da Marinha Brasileira, e tendo em seu comando Barros Cassal, se é capaz de definir as causas que esse fato ocasionou na população de Porto Alegre.
Com uma abordagem de uma história vista de baixo, capacidade de elaborar e procurar definições e padrões sociais que levaram a população a se armar ou apoiar a causa revolucionaria, faz emergir uma visão da população que estava cercada e a mercê dos fatos que poderiam acontecer durante o sitiamento.
Essa busca de informações que a população fornece, é que enfatiza os domínios da pesquisa, pois conhecer os hábitos, o discurso, as relações sociais, econômicas e o cotidiano é que instiga o conhecimento desse recorte da nossa história.

O Fato Histórico

No dia 21 de Junho de 1892, a cidade de Porto Alegre sofreu um sitiamento pela canhoneira Marajó que tinha em seu comando João de Barros Cassal e o Capitão Tenente Candido dos Santos Lara, comandante da flotilha da Marinha Brasileira e pelo barco Camocim tendo no comando o Tenente Aníbal Eloy Cardoso.
Às 9 horas da manhã, em nome das forças de terra da Marinha e do povo, João de Barros Cassal intimou o general Bernardes Vasques a abandonar, dentro de uma hora, a importantíssima comissão de que o investira o governo federal, não atendendo a intimação, Porto Alegre seria bombardeada. Para efetivar sua intimação, a canhoneira Marajó e o Camocim, colocaram-se em prontidão, assumindo posicionamento de guerra.
O general Bernardes Vasques, tomou providências e colocou em prontidão todas as forças sobre seu comando, o exército, a guarda cívica e uma numerosa força civil pertencentes ao Partido Republicano liderada pelo senador Ramiro Barcelos.
Eram 10 horas da manhã quando rompeu o fogo da Marajó em direção à sede do governo constitucional do Estado, sendo o primeiro tiro de pólvora seca, seguindo outros da mesma natureza até ser acompanhados de balas, onde cruzavam por cima do palácio, ”cada tiro que fazia estremecer o solo”.
Duas dessas balas foram encontradas nas imediações do Menino Deus, próximo da estação do telégrafo, foi duas balas de metralhadora. Por toda o litoral foi estendida trincheiras para proteção da cidade e seus cidadãos.
Os motivos que levaram ao bombardeamento foi à demissão do tenente Lara, pelo ministro da Marinha, e não aceitando a demissão o mesmo se rebelou contra o governo da legalidade no Estado.
Às 12 horas 50 minutos, com a Marajó postada em frente à Rua General Silva Tavares, com a proa voltada para o ocidente, disparou o primeiro tiro de pólvora seca, logo em seguida o segundo tiro de canhão sucedendo-se centenas logo atrás.
“À proporção que disparava incessantemente seus canhões e metralhadoras ‘Nordentfeld’, mandando uma verdadeira chuva de balas para terra, a canhoneira movia-se lentamente pelo litoral adiante, sustentando um fogo vivíssimo e selvagem, crivando de projeteis as rua, paredes dos edifícios públicos e particulares, pretendendo em fim arrasar tudo”.
Em terra as forças militares revidaram o fogo e alvejaram a Marajó com tiros de canhão e espingardas, acompanhando-a em seu movimento e obtendo a melhor visão de fogo para destruí-la. “A Marajó sofreu visíveis avarias, levou tiros de canhão na popa, no casco e nos escalares”. Já chegando próximo à volta do gasômetro, a Marajó levou um “canhonaço” que fez desgovernar e cessar o fogo, ficando a deriva e sendo preso seus tripulantes logo em seguida.

Conclusão

Com esse fato histórico apresentado, e todo o processo de apavoramento que sofrera a população porto-alegrense, onde movimentou as bases sociais da cidade, com o fechamento do comércio, a organização política e a solidariedade da sociedade, podemos dizer o quanto foi importante a Canhoneira Marajó fazer parte desse sitiamento, pois fez surgir um movimento social-político de profunda importância a nossa história do Rio Grande do sul.
Partindo dessa maneira de ler a história, a Revolução Federalista de 1893 se apresenta como uma legitimação de um movimento revolucionário, onde faz emergir uma insatisfação e manifestação em forma repressiva a população civil e militar no Rio Grande do Sul, causando um ano antes (1892) uma amostra de como a política se modificariam com a Revolução, e o custo para uma população urbana e rural do Estado.

Referências Bibliográficas

A Federação, Órgão do Partido Republicano, Num. 140. O dia de ontem. Cidade de Porto Alegre, 22 de Junho de 1892.
A Ordem, Órgão do Partido Republicano, Num. 8416. Dia 22. Cidade de Jaguarão, 4 de Julho de 1892.
A Ordem, Órgão do Partido Republicano, Num. 8417. Bombardeamento. Cidade de Jaguarão, 5 de Julho de 1892.
FRANCO, Sérgio da Costas. O Partido Federalista do Rio Grande do Sul. Caderno de História nº 13, Memorial do RS.
FREIRE, Felisberto. História da Revolta de 6 de setembro de 1893. v 1. Rio de Janeiro: Cunha e Irmão, 1896.
LAEMMERT & C.ª – Editores. A Revolução Federalista. RJ, SP, e Recife, 1897.

Obs: O autor é professor de história e pós-graduando em filosofia.