100 anos da publicação de Triste fim de Policarpo Quaresma. Projeto de identidade nacional no inicio da República Brasileira.
Jocemar Paulo de Lima*


INTRODUÇÃO:
Esse artigo apresenta como objetivo principal analisar o personagem Policarpo Quaresma, personagem central da obra, destacando suas principais características como: patriota extremado, idealizador, visionário que o tornou símbolo da revalorização dos ideais nacionais e da construção da identidade nacional. A obra foi publicada com recursos do próprio autor, inicialmente em folhetins do Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, entre 11 de agosto e 19 de outubro de 1911, e em livro quatro anos mais tarde . Seu enredo se desenvolve na cidade do Rio de Janeiro, em 1893, período em que o Brasil era governado por militares.

PROJETO DE IDENTIDADE NACIONAL NA REPÚBLICA VELHA
Policarpo é um personagem que ironiza a realidade de seu tempo e que revela que a vivência social no Brasil pós-República não passava de obra de impostores. Ao optar pela cultura dos indígenas, pelo violão, em detrimento da norma culta, Policarpo Quaresma faz estridente um grito contra o status quo importado da sociedade brasileira. Tudo soa cômico, mas deveria era comover, inquietar e despertar.
Sobre o nosso personagem central, o que merece destaque é sua ironia: cortante, afiada, fértil. Mais fértil que as terras do sítio Sossego que engendra uma das principais passagens irônicas do livro, mas de onde não sai convincente produção agrícola. Policarpo participa da luta por uma República que o trai: ao defender os prisioneiros da revolta contra a nascente República, Quaresma é executado, acusado de traição pelo simples fato de ter denunciado ao Marechal das Alagoas Floriano Peixoto os fuzilamentos dos revoltados já derrotados . Tenta salvar e, ironicamente, é vítima de sua própria virtude. Enfim, todos os planos de Policarpo dão em nada. O ideal nacionalista é solapado por uma dura realidade, marcada pela brutalidade e pelas cercanias precisas do Poder. Não há, de fato, espaço para um sentimento republicano.
Das tensões do Brasil do início do século XX até as tensões do Brasil deste século, há muito sobre o qual se pode refletir. Lima Barreto em Policarpo adianta muito esta agenda de discussão e pensamento. Não fica amarrado a nenhum saudosismo e não prognostica nenhuma solução. Apenas escancara a realidade e a põe à prova nesta obra centenária e das mais importantes da literatura nacional. Há no livro uma mescla bem dosada que espelha o conservadorismo social de então e a trajetória de um sonhador que tenta reformá-lo. Não teve sorte porquanto sua luta era quixotesca. A vitória de Policarpo Quaresma vem muito depois, quiçá mais nestes seus 100 anos, depois que somos capazes de ver que as situações que Lima Barreto tentava consertar com a sua ironia de maldito e seu protesto literário ainda estão presentes neste país.
Contudo, podemos destacar ainda que o autor pré-modernista escreve Policarpo Quaresma para desconstruir tudo aquilo que a sociedade via como valor, que acaba se convertendo em desvalor. Percebe-se, que Policarpo Quaresma na tentativa de construir essa identidade nacional agia de forma sacralizante. Contudo, a importância do livro rendeu uma adaptação para o cinema que aconteceu no ano de 1998, que contribuiu ainda mais, para difundir a história que está prestes a completar cem anos de escrita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Policarpo Quaresma é uma das representações ficcionais mais abrangentes do nosso quadro social, nos primeiros anos da República. O romance traz aspectos relacionados a fatos sócio - históricos ocorridos quase vinte anos antes de sua publicação. O Triste Fim de Policarpo Quaresma, foi considerado pela crítica o maior representante do pré-modernismo brasileiro, publicado no ano de 1911, o romance traz uma reflexão sobre nacionalismo, identidade e de como a sociedade é tapeada pelos que detém o poder. Lima Barreto, em seu livro destaca dois lados de um mesmo Brasil, de um lado, o país perfeito aos olhos do seu personagem central, do outro, um país real que desconstruía essa perfeição idealizada.
Referências bibliográficas:
BARRETO, Lima. O Triste Fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: DCL, 2005;
BERND, Zilá. Literatura e identidade nacional. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2003.
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Cultrix: São Paulo
PEREIRA, Elvya Shirley Ribeiro. Lima Barreto: Um olhar deslocando-se. Légua & meia: Revista de literatura e diversidade cultural. Feira de Santana: UEFS, nº 1, 2001-2, p. 224-236.