“REFLEXÕES DO CORPO NA CONTEMPORANEIDADE”

MUNIQUE TEIXEIRA DA SILVA

RESUMO

Este artigo o tem como objetivo tecer uma breve reflexão acerca de questões relacionadas à imagem corporal fazendo uso de diferentes olhares sobre a forma do corpo na contemporaneidade. Discorremos sobre as ações corpóreas na sociedade contemporânea e seus efeitos sobre a consciência corporal. Ao fim, concluímos ser de suma importância enfatizar o trabalho da educação somática, para que possamos combater o culto ao corpo e sua atual onipresença no contexto social.

Palavras chaves: Corpo, consciência corporal, educação somática.

Com as mudanças que vem ocorrendo no mundo globalizado, o corpo tem sofrido transformações pela íntima relação com seu ambiente sócio-cultural, onde o indivíduo adquiri autonomia e amplia sua rede de relações e conhecimento. Esta autonomia é suficiente o bastante, para fazer com que este mesmo indivíduo se distancie do contexto sócio-cultural e das relações que seu ambiente social original lhe proporciona.

Por outro lado, essas mudanças ocorrem tão rápido que os movimentos ficam, cada vez mais, automatizados, ou seja, robotizados. O corpo, através desta automatização, fica impregnado de movimentos de maneira tal, que o indivíduo não consegue ter consciência da própria imagem corporal. “(...) o corpo é similar a um a campo de força em ressonância com os processos de vida que o cerca.” (LE BRETON, 2006, p. 26).

Hoje, vemos com freqüência que os indivíduos se tornam verdadeiros mutantes na busca de um corpo ideal, no qual muitas vezes, não são capazes de identificar onde realmente pretendem chegar com tal inconsciência, seguindo cegamente, os padrões estéticos da boa forma que sociedade determina.

Goldenberg e Ramos nos falam que:

(...) sem negligenciar os condicionamentos sociais, ajuda refletir sobre o atual culto ao corpo na cultura brasileira, uma vez que os significados atribuídos pelos indivíduos à aparência e a forma física, no processo de revelação de suas identidades parecem inflacionados especialmente entre as camadas mais sofisticadas dos grandes centros urbanos.(GOLDENBERG; RAMOS, 2002, p. 20).

Essas imposições estéticas levam o indivíduo à compulsividade que, para ter um corpo perfeito, faz dele uma máquina onde vale qualquer preço para tentar chegar à boa forma, atendendo assim, aos anseios de seu meio ambiente social. “ELIAS in GOLDENBERG; RAMOS, nos diz que: “(...) pode-se pensar que a aparente liberação dos corpos, sugerida por sua atual onipresença na publicidade, na mídia e nas interações cotidianas, tem por trás um “processo civilizador” que se empreende e se legitima por meio dela.” (idem, p.25).

O corpo torna-se um objeto de desejo, onde o culto pela beleza faz da boa forma algo tão importante quanto a religião, tornando-se um hábito representativo, dando continuidade à novas e tradicionais formas para a sociedade .

A educação somática surge com intuito de dar ao indivíduo uma assistência para que, ao mesmo tempo que adquiri autonomia, não perca a consciência da auto-imagem corporal, ou seja, que consiga manter sua essência. A isto damos o nome de consciência corporal ou de consciência pelo movimento.

Estas são questões cada vez mais recorrentes e que vem atingindo grande parte da população ocidental, que de forma global, dificilmente permitem ao individuo perceber seus gestos e expressões na descoberta singular do próprio corpo. Muitas vezes o culto ao corpo, inconscientemente, se impõe à escuta do próprio corpo. MILLER, nos diz que: “cada vez mais, somos treinados para o fazer e o falar, mais não para o escutar”(2007, p.101).

A consciência corporal pode ser aplicada em diversas áreas e diferentes níveis cognitivos corpóreos num mesmo ambiente social, pois, não se trata de um trabalho hermético; de uma prática exclusiva a profissionais de dança; de uma visão exclusivista e fechada.

Segundo KATZ, GREINER:

“(...) a ação criativa de um corpo no mundo reproduz os procedimentos que engendraram como uma porta vai-vem, responsável por promover e romper contatos. Cada tipo de aprendizado traz ao corpo uma rede particular de conexões quando se aprende um movimento, aprende-se o que vem antes e o que vem depois dele. O corpo se habitua a conectá-los. A presença de um anuncia a possibilidade de presença dos outros“(2002, p.94).

Considerações finais

Concluímos ser de suma importância enfatizar o trabalho da educação somática, para que possamos combater o culto ao corpo e sua atual onipresença no contexto social da indústria mercadológica, sugerindo assim, que projetos exeqüíveis sejam empreendidos no sentido de uma efetiva ação transformadora no âmbito sócio-educativo; ação esta, que proporcionará nova forma singular e consciente de interagir na descoberta pelo indivíduo do próprio corpo.

Portanto, o ideal é pensarmos o corpo como objeto da educação, ou seja, é reconhecer que o conhecimento emerge do corpo a partir das experiências vividas. Experiências, essas, que estão relacionadas tanto com a autonomia do corpo quanto com a sua dependência ao meio, a cultura e a sociedade em que vive. Nesse contexto, consideramos que, na própria ação, já há cognição, uma vez que a aprendizagem emerge do corpo a partir das suas relações com o entorno (FLORENTINO apud MENDES; NÓBREGA, 2004).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FLORENTINO, José. Corpo objeto: um olhar das ciências sociais sobre o corpo na contemporaneidade. http://www.efdeportes.com/efd113/o-corpo-na-contemporaneidade.htm. Acesso em 15 de junho de 2008.

GOLDENBERG, Mirian e SILVA RAMOS, Marcelo. A civilização das formas: O corpo como valor IN GOLDENBERG, Mirian (ET AL) Nu e vertido: Dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de Janeiro, 2002.

LE BRETON, David. A sociologia do corpo. Petrópolis: Vozes, 2006.