Anteriormente (nos últimos 30 anos) se falava de pobres marginalizados e agora se fala de exclusão. Pergunta o autor: por que é preciso usar três nomes para a mesma coisa?

São modos e problemas, o conjunto de dificuldades de uma inclusão precária e instável, marginal que vem sendo chamada de exclusão.

Na verdade o problema da exclusão nasce com a sociedade capitalista. Não é como muitos dizem um problema do projeto neoliberal. É uma forma de excluir para incluir sob novas formas. O capitalismo na verdade desenraiza e brutaliza a todos, exclui a todos. A sociedade capitalista desenraiza, exclui, para incluir, inclui de outro modo, segundo suas próprias regras, segundo sua própria lógica.

Por que agora nós todos percebemos a exclusão e antes não percebíamos? Porque antes, logo que se dava a exclusão em curtíssimo prazo, se dava também a inclusão, da maneira capitalista. Por exemplo: os camponeses eram expulsos do campo e eram absorvidos pela indústria, logo em seguida.

O problema da exclusão começou a se tornar visível nos últimos anos porque começa a demorar muito a inclusão: o tempo que o trabalhador passa a procurar trabalho começou a se tornar excessivamente longo e freqüentemente o modo que encontra para ser incluído é um modo que implica certa degradação. É um novo modo de vida. Esse modo de vida aparece também como criatividade dos excluídos: os quais inventam ou se sujeitam a mil e uma maneiras de fazer qualquercoisa para sobreviver.

É uma reintegração, reinclusão no plano econômico, mas não no plano social ou moral. Exs: criamos que se dedicam à prostituição; vendedores de drogas (o avião). São, portanto, formas de reinclusão econômica em vários graus de diferentes modos que, no fundo, comprometem radicalmente a condição humana. É claro que há um lado positivo nessa reinclusão. Por exemplo: o BANESPA fez uma pesquisa para escolher lugares para instalar novas agências lucrativas. Um desses lugares indicados foi a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, que apresentava uma economia em movimento bem superior a diversas pequenas cidades do RJ.

Enfim, 2° o autor, este processo que estamos chamando de exclusão não cria mais os pobres que nós conhecíamos e reconhecíamos até outro dia. Ele cria uma sociedade paralela que é includente do ponto de vista econômico e excludente do ponto de vista social, moral e até política. Como nos casos das favelas do RJ que têm um poder paralelo próprio (veja a novela 2 caras) parece que as atividades ali são controladas por diferentes grupos devotados a atividades ilegais e delinqüentes , como o tráfico de drogas. Está surgindo um Estado e uma justiça paralelos ali, como é o caso das exclusões, dos linchamentos. É a instauração de uma justiça popular que restaura o justiçamento sumário e sem apelo.

Em resumo, o autor argumenta que nos guetos, nas áreas de excludência as pessoas estão incluídas economicamente, ainda que de modo precário, mas estão criando um mundo à parte.

A nossa sociedade está se transformando numa sociedade dupla, duas "humanidades" na mesma sociedade. É uma nova desigualdade: De um lado, ricos e pobres, todos inseridos de algum modo, decente ou não, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, com um lugar assegurado no sistema de relações econômicas, sociais e políticas. Do outro lado, a subumanidade: incorporada através do trabalho precário, do trambique, do pequeno comercio, no setor de serviços mal pagos, escusos.São cidadãos que podem até ter muito dinheiro decorrente de atividades ilícitas, mas estão à margem. São tratados como cidadãos de segunda categoria. (Ex: o tênis imitação do adolescente pobre reproduz o tênis do jovem rico, etc). Entre esses dois mundos abre-se uma fratura difícil de ultrapassar. São insuficiências e privações que se desdobram para fora do econômico: é um mundo mimético, do imaginário, da consciência fantasiosa e manipulável. São pessoas que estão pedindo para serem integradas segundo a lógica do mercado e não segundo critérios de servidão, violência, exploração ignóbil.

Segundo o autor, no Brasil, as pessoas estão separadas por categorias sociais rígidas que não oferecem alternativas de saída e, por isso, a população está construindo formas alternativas de inclusão. O desafio da sociedade brasileira é recusar esta dupla sociedade. As lutas sociais parecem se encaminhar para exigir mudanças fundamentais, modernização, compromisso responsável de todos que atendem as necessidades do homem e não só do CAPITAL.