Jonathã Marques de Abreu

Virginia Woolf provavelmente foi a escritora mais influente do século XX. Durante toda sua vida lutou arduamente consigo mesmo. Uma das suas grandes preocupações, desde o início da sua escrita, era como uma mulher numa sociedade patriarcal, como a Inglaterra do século XX poderia se tornar uma escritora e principalmente como seria essa escritora em uma sociedade de padrão machista, de poetas puramente masculinos. Num certo sentido Virginia Woolf vai dizer que para uma mulher ser uma escritora boa, deveria desenvolver uma escrita que pudesse ser comparada com a produção artística masculina e para tal essa mulher precisaria criar um lugar somente seu, metaforicamente, "seu próprio quarto".

Ela ainda diz que, basicamente, a perspectiva feminina não é uma ideia definidora, mas questionadora, ou seja, o homem ver o mundo de uma maneira definitiva, com a visão a partir de acontecimentos já definidos, como uma guerra, um acontecimento político importante. Já a visão feminina seria uma visão que começa com coisas aparentemente pequenas, do particular, não deixando de lado detalhes, que parece não ser importante, mas se tornam interessantes na perspectiva feminina, consequentemente não aceitando definições pré-caracterizadas, determinadas e sim questionadoras.

"Kew Gardens" nos trás essa visão feminina, por meio de coisas pequenas Virginia Woolf consegue nos transportar para um mundo que dificilmente conseguiríamos, ver e nos faz pensar na própria questão existencial do ser humano e qual a nossa relação com a natureza.

O Parque em "Kew Gardens" é visto através, como já foi dito, por coisas pequenas, como por exemplo, uma folha, uma libélula, uma gota da chuva. Tal perspectiva nos transporta para um mundo cheio de paradoxo, encontramos um mundo onde a natureza não é selvagem, mas também não é um lugar que serve para a sobrevivência.

A cidade moderna se caracteriza pela exclusão da natureza, com um lugar que não há vida, um lugar alienante. Com os parques o homem tem a possibilidade de encontrar-se com a sua identidade. Com essa ideia "romantica", temos a natureza como imitação do selvagem, algo sublime, e por meio dela o homem vai sentir algo além da sua natureza interna e encontrar-se com sua individualidade, nesse mundo o homem vai encontrar suas raízes.

A questão existencial também é colocada no conto. Vivemos num lugar alienante, e é na natureza que o ser humano pode fugir dessa realidade."Kew Gardens" nos transmite tal sentimento, somos levados a perceber ações que nos passam despercebidos, sentimentos importantes que nos trazem a noção que não somos nada em frente do poder da natureza e também nos revela o que somos:

"Por que eu deveria me importar, Simom? Não se pensa sempre no passado, em um jardim com homens e mulheres deitados sob as Arvores?"(...) Para mim, um beijo. Imagine seis menininhas sentadas diante de seus caveletes vinte anos atrás, a beira de um lago pintando nenúfares, os primeiros nenúfares vermelhos que eu jamais vira.(...)

(Woof, Virginia, p 84)

Analisando o conto de Virginia Woolf chegamos a conclusão que não é a natureza que precisa da gente, é o homem que necessita dela para sobreviver e que também não somos nada em frente do poder da natureza. Com a natureza encontramos respostas e é nela, que o ser o humano, recorre para fugir do cotidiano e conseguir viver no mundo alienante, deixando-nos, portanto, em harmonia com corpo e mente.